Máscaras não protegem contra o coronavírus, pessoas ficaram cegas após tomar a vacina contra a Covid-19, inalar uma solução de água oxigenada e bicarbonato de sódio é preventivo, injetar desinfetante no corpo promove limpeza no organismo e também previne a doença. Essas são apenas algumas das milhares de notícias falsas que circularam na internet durante o último ano de pandemia.
A maioria delas, fatais. O trabalho da imprensa no Brasil se tornou, além de informar de maneira correta sobre o cenário caótico que estamos vivendo, uma luta contra notícias falsas, que, além de comprometer a vida da população, descredibiliza a mídia séria, e põe em cheque as informações verdadeiras. O repórter de televisão Hugo Vieira trabalha no jornalismo diário do Rio Grande do Norte. Para ele, a informação correta, principalmente na realidade da pandemia, pode salvar vidas. “Nós fazemos um trabalho muito cauteloso, de levar informação no meio da pandemia. Então eu diria que o meu trabalho, apesar de cobrir outras áreas, não só a questão da pandemia, é um trabalho de cuidado”, relatou.
Por trabalhar em uma emissora de TV, Hugo não pode fazer home office. Ele precisa sair às ruas todos os dias para noticiar o que está acontecendo. Ele conta que toma todas as medidas de biossegurança possíveis: uso de máscara, álcool em gel, distanciamento social com as pessoas que entrevista, etc. Ao entrevistar alguém, a equipe de reportagem esteriliza um outro microfone e o entrega para a pessoa, para garantir a segurança. Porém, nem todas as equipes de jornalismo têm condições de cumprir todos esses protocolos. Diogo Rodrigues* (nome fictício) trabalha em outra emissora de TV no RN. Também repórter de jornalismo diário, Diogo relata que não recebeu nenhum equipamento de proteção individual da empresa, e que, inclusive, precisou gastar bastante dinheiro para comprar esses equipamentos. “A única coisa que a empresa está fornecendo é álcool, mas que não é suficiente, precisava, por exemplo, de um desinfetante para esterilizar o microfone.
Isso gera constrangimento, porque alguns entrevistados já se negaram a pegar o microfone”, contou ele. Para Diogo, trabalhar nas ruas durante a pandemia tem se tornado ainda mais estressante por conta da constante preocupação com a higiene. Além disso, fazer pautas sobre a Covid-19 em hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) se tornou um risco ainda maior. “A gente já teve que fazer matérias, inclusive, em portas de UTI, e até há bem pouco tempo atrás eu estava aceitando, mas chegou ao ponto de não aceitar mais. Pode ser que eu leve uma advertência, mas eu não me submeto e também não autorizo mais o meu cinegrafista a passar por aquela situação, porque eu acho que a nossa segurança vale mais do que uma imagem”, frisou Diogo.
Hugo também diz que evita entrar em hospitais e UPAs, mas que ainda grava reportagens na porta desses locais, quando preciso. No fim do dia, quando o trabalho termina, permanece a tensão e preocupação com a possibilidade de ter se contaminado e o perigo de transmitir o vírus para a família. Diogo desabafa que sempre fica com o psicológico abalado ao voltar para casa. Hugo conta que tem medo de que as histórias de famílias sofrendo por conta da Covid-19 acabem se tornando a sua realidade. “O maior desafio, sem dúvidas, são os relatos das famílias que perderam pessoas para a Covid-19 ou estão esperando um leito para seus parentes. Isso é muito doloroso, a gente acaba se envolvendo e se emocionando também. Eu lembro da história de uma filha que estava esperando notícias da mãe que estava internada em estado gravíssimo, com suspeita de Covid-19, em um hospital de Parnamirim. Isso mexeu muito comigo, a gente fica pensando que precisa chegar em casa com saúde, para que nossas famílias fiquem bem”, desabafou Hugo. Ao ser questionado sobre a existência de dados de repórteres contaminados no RN, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RN (SINDJORN) relatou que as empresas não informam números, mas que se sabe indiretamente de muitos casos. “O Sindicato, via ofício, pede mais segurança para todas as equipes, pautas que evitem contaminação, uso de álcool em gel e máscara para todos, evitar circulação de pessoas de fora nas redações e, se houver a possibilidade, o home office”, explicou o presidente do SINDJORN, Alex Othon.
Hugo reitera a importância do jornalismo com credibilidade em tempos de pandemia. “A imprensa profissional é um remédio para combater a desinformação”, disse. Porém, é difícil que esse trabalho tão importante seja feito se os repórteres não estiverem seguros e saudáveis. “Eu sei que o nosso trabalho, principalmente em televisão, é garantir a melhor imagem, o melhor texto, mas a pandemia chegou e mudou tudo, tudo que a gente pensava pra televisão, pra internet, para as próprias pautas, não se aplica mais, virou tudo de cabeça pra baixo, e a segurança tem que estar em primeiro lugar”, afirmou.
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